Antes de voar...

FERNÃO CAPELO GAIVOTA
Interpretação Pessoal
 (Gleide Morais dos Santos)

Somos parte de algo maior, de algo DIVINO, sendo assim, seres sagrados e divinos também, mantendo cada qual sua individualidade.  Enquanto não conseguimos enxergar nosso estado verdadeiro, nos encontramos como pedras brutas a serem talhadas neste plano. Devemos quebrar os paradigmas que nos limitam – muitos dos quais criados por nós mesmos – em busca da evolução.

Ao optar pelo caminho da evolução, principalmente em um meio tão centrado no TER, começamos a percorrer um caminho solitário. Para o bando de Fernão, a vida se resume a voar para se alimentar. O bando da nossa civilização – pelo menos a ocidental – preocupa-se em trabalhar e estudar para obter e conquistar bens materiais. Não que isso seja algo totalmente negativo. Afinal, partir em busca de evolução pessoal e espiritual parece utópico e fantasioso. Como alimentar o espírito se há contas a pagar, bens a adquirir? Verdade que muitos focam a vida no TER por medo de auto-conhecimento, do SER. Olhar-se, descobrir-se não é tarefa fácil, que muitos suportem.

Assim como Fernão, muitos de nós nos sentimos repelidos à busca, acreditamos que há um motivo maior para se estar vivo e que devemos procurar encontrar a satisfação para nossa existência. Começamos a caminhar, sozinhos e, ao irmos nos conhecendo, vamos descobrindo novos significados e aprendizados. A vida passa a ter um sentido, um propósito maior. Impregnados que estamos desses novos saberes, queremos compartilhá-los com aqueles que amamos. No entanto, nos deparamos – e nos surpreendemos – com a resistência dos outros em aprender. Eles simplesmente não o desejam. Possuem suas limitações e, na verdade, podem ainda não estar aptos para empreender um caminho em busca do crescimento. Desprezam nossas conquistas e aprendizados, talvez apenas porque ainda não possuem clareza para enxergar, escutar, SENTIR. Têm medo de deixarem sua zona de conforto, de olharem-se. Crescer exige responsabilidade e, geralmente, desperta um desejo por mais conhecimento. Não que não ocorra, mas dificilmente alguém que se proponha neste caminho, permanece estagnado no patamar em que se encontrar. Quando experimentamos o prazer de voar mais alto ou de formas diferentes das usuais, queremos sempre romper a barreira dos conhecimentos adquiridos. É aprender, internalizar e buscar outras formas de evoluir mais um pouco. Muitas vezes, cria-se uma distância entre os que querem arriscar e os que não se permitem mudar. Pode ser necessário exercitar o desapego e afastar-se de algumas pessoas, para continuar buscando crescer.

Durante algum tempo, percorremos um caminho solitário, tendo como companhia nós mesmos e seres invisíveis a nos auxiliar na caminhada. É o momento de confrontar-se com nossas emoções, anseios e medos. De conhecer-se profundamente e de crescer. Se é difícil, a principio, vamos aprendendo a estar só e olhar para dentro.

Com o tempo, vamos descobrindo que, apesar de deixar um bando para trás, encontraremos uma gaivota aqui e outra acolá sintonizadas com nossas aspirações. Olhamos para o lado e percebemos que não voamos sozinhos. Somos acolhidos, recebemos mais conhecimento e desenvolvemos novas habilidades. Aqueles paradigmas que paralisavam nossa vida começam a fazer parte de um passado distante.

Dotados de mais habilidades e conhecimentos, algo mágico acontece em nossos corações.  Percebemos a necessidade de retornar e ajudar o bando deixado para trás. Porque se há muitos que não querem saber, há outros tantos sedentos de crescimento. Com amor, com compreensão, voltamos para auxiliar quem deseja trilhar os mesmos caminhos que já percorremos. E sempre encontraremos alunos que queiram nossa orientação. Nada há nisso de presunção. Trata-se apenas de um ser querendo passar a outro o que de positivo recebeu da vida.

Fernão Capelo Gaivota foi um dos livros mais inspiradores que li na adolescência. Sua leitura, numa época de tantas incertezas e descobertas, serviu como um farol, uma luz a me guiar. Em uma fase em que tentamos descobrir o que somos, o que queremos, a história da gaivota me deu uma certeza: não importa qual caminho fosse seguir, eu jamais seria um ser humano conformado, estagnado, avesso à mudanças. Meu caminho seria o da evolução. Algumas vezes me perdi, esqueci meus sonhos, mas agora estou aqui, empenhada em minhas buscas e pronta para voar.



           

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